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Um conjunto de arquitetos, em vários países do mundo, tem procurado explorar conceitos advindos do campo da Virtualidade em seus trabalhos e reflexões. O resultado tem sido pouco coeso, do ponto de vista conceitual, como, de resto, é correto esperar de uma produção espalhada pelo mundo, viesada com freqüência por fatores culturais locais. Nessa pouca coesão reside, porém, sua maior riqueza. Um rápido olhar sobre a prática de muitos desses profissionais permite entrever processos projetuais absolutamente distintos, frutos de histórias profissionais às vezes densas e longas, às vezes recém-iniciadas com brilhantismo. Quando o programa escolhido é o dos espaços de habitar, exames mais minuciosos têm mostrado que grande parte dessa produção contém inovações formais, sem, no entanto, propor-se repensar as funções dos espaços domésticos. De fato, tanto no Brasil como em vários países ocidentais, as tecnologias de informação e comunicação – TICs – têm alterado modos de vida e engendrado tendências comportamentais, mas a configuração espacial dos interiores domésticos continua baseada na tripartição social-íntimo-serviços e na compartimentação por cômodos, permanecendo fiel a modelos europeus do século XIX. As formas de diálogo mediatizado, estimuladas pela contínua oferta de novos equipamentos pelo mercado, possibilitando outras maneiras de comunicar-se à distância, estão contribuindo para o surgimento de padrões de sociabilidade até então desconhecidos, reformulando demandas sobre o desenho desses interiores domésticos. Os arquitetos selecionados pela pesquisa apresentada nesse artigo têm em comum uma grande familiaridade com esses meios, mesclando com facilidade elementos de universos virtuais e do mundo concreto, explorando linguagens visuais, arquitetônicas e artísticas híbridas, construindo de forma empírica a noção de espaços igualmente híbridos. Para esses arquitetos, o computador não é apenas uma ferramenta de representação do projeto, mas um meio onde a concepção arquitetônica alimenta-se do chamado pensamento digital, em todas as suas formas, conforme definido por Paul Virillio, Manuel Castells e Maia Engeli, entre outros. De seus projetos, emerge uma habitação que utiliza TICs, seja em seu funcionamento, sua concepção ou em sua relação com espaços virtuais, dialogando com desenvoltura com áreas diversas, resultando em uma produção transdisciplinar de objetos, mobiliário, moda, instalações e manifestos, e mesmo música, vídeos e sites na internet. As realizações desses profissionais assumem diversos formatos, que vão desde experimentações no espaço concreto até o virtual, tendo como elo comum a associação entre TICs e expressões da chamada cibercultura. O artigo aqui proposto apresenta o conjunto de projetos arquitetônicos selecionados, categorizando o processo de concepção de seus autores. Em seguida, analisa as diversas posturas à luz do pensamento de autores expressivos como Jean Baudrillard, Pierre Lévy, Oliver Grau, William Mitchell, Roy Ascott, entre outros. Por fim, propõe conclusões preliminares que visam a contribuir para o debate sobre o papel do arquiteto na construção das atuais noções de espaço híbrido. A pesquisa em que se insere essa reflexão está sendo desenvolvida em um núcleo de pesquisa de uma universidade pública brasileira, que tem procurado compreender, analisar e produzir critérios que visam a repensar o desenho dos espaços da habitação na atualidade. Consideram-se sua história recente e as transformações ocorridas nos grupos familiares, suas atuais tendências comportamentais, e a inserção de TICs no espaço doméstico e na cultura contemporânea. |