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Espaço e lugar são termos que historicamente compõem a ontologia da arquitetura. Frente à dinâmica cada vez mais movediça do território e da experiência urbana, porém, outra variável ontológica se apresenta, para reflexão e para ação: o tempo. Se a partir dos anos 1960, com as diversas investigações que se processaram na arquitetura, e de resto na cultura e nas artes, era possível identificar um movimento em direção à temporalização do espaço, no contexto contemporâneo é possível delinear uma dobra na mesma questão: à temporalização do espaço soma-se a espacialização do tempo. A dobra ontológica da arquitetura se processa de modo coadunado com outra de mesmo teor que se processa no campo artístico. Para a compreensão das dobras nestes dois pólos – arquitetura e arte - a noção de evento será tomada como chave de leitura comum, tencionando-a como uma das chaves potenciais para compreensão do mundo contemporâneo. A noção de evento passou a ser, em meio as intensas transformações culturais que se processaram nos mesmos anos 1960, a forma privilegiada das práticas artísticas e de formulações arquitetônicas utópicas do período. Se o evento, no contexto histórico atual, encontra suporte em reflexões filosóficas contemporâneas, passa a adquirir novas significações, traduzidas em proposições na arquitetura e nas práticas artísticas vinculadas aos meios digitais ou neles imersas. Evento é noção que não só permite a reflexão sobre os desdobramentos internos aos campos da arquitetura e da arte - e o entrecruzamento entre eles, mas igualmente permite conectá-los com o desenvolvimento das redes de comunicação e de informação global e instantânea. No campo arquitetônico, por exemplo, a visada pelo evento, permite a identificação de uma “arquitetura de performance” capaz de alavancar os termos forma, função e programa, entre outros, da posição que historicamente ocuparam como instâncias teóricas e operativas internas à disciplina para uma condição estratégica de vinculação da arquitetura à esfera da informação e da circulação cultural, contribuindo em muito para o surgimento de novos paradigmas espaciais. |