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Recorrentemente os ambientes computacionais de software 3D são compreendidos e utilizados como ambientes para desenho, que permitem a interação com maquetes arquitetônicas digitais – artifícios para vender imagens acabadas, ou permitir uma integração dos usuários em processos quiçá não-lineares. Nesse contexto, o presente trabalho pretende discutir esses ambientes como viabilizadores do desenvolvimento da arquitetura como emergência em processos de auto-organização – a arquitetura como sistema complexo. Assim, torna-se necessária a aproximação entre os universos da Arquitetura e da Complexidade com vistas à compreensão da articulação seminal entre ordem↔desordem↔organização, entre sistema↔ambiente, entre o todo e suas partes, e a importância das interações nesses contextos. Para conceber a arquitetura como emergência, é preciso compreender processos que implicam evolução. Nesse contexto, o ‘tempo’ do pensamento científico que se oficializou com a formalização de leis gerais por Newton no século XVII, o tempo reversível, que não afeta os objetos, o tempo como ‘ilusão’, dá lugar ao tempo de Darwin, o tempo de Bergson, irreversível – o tempo da evolução, que transforma, o tempo da complexidade. Na década de 1990, a possibilidade de transformação e movimentação de formas no tempo em ambiente digital de modelagem de software 3D – desenvolvidos para a industria cinematográfica e de animação digital –, causou forte impacto na representação, abrindo paralelamente um vasto campo para a exploração de formas dinâmicas de arquitetura. No contexto dessas explorações, a compreensão da animação sob a perspectiva da complexidade implica a utilização de recursos computacionais para simular transformações no tempo em função de atratores como o fluxo de pessoas, dados, energia. Essa ‘arquitetura animada’, proposta por nomes como Greg Lynn, se assemelha a um ‘sistema complexo’ – a forma-arquitetura emerge das interações, dos fluxos concretos ou virtuais que a perpassam. Focalizando o processo em ambientes computacionais, a evolução pode acontecer, por exemplo, utilizando atratores e algoritmos genéticos. Essas ferramentas de simulação de processos auto-organizacionais, foram idealizadas e efetivamente construídas num percurso que se articulou a partir das transformações científico-tecnológicas, desencadeadas na segunda metade dos anos 1940, pela Cibernética de Norbert Wiener, pela Teoria Matemática da Informação e Comunicação de Claude Shannon, pela Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy, e pelos trabalhos de Alan Turing em Morfogênese. A interação entre sujeitos e objetos – entre arquitetos, usuários e arquitetura –, no decorrer do que podemos compreender como processos emergentes de design, assume um caráter ampliado. Nesses processos configura-se uma relação dinâmica entre sujeitos↔objetos↔ambiente em uma lógica auto-organizacional, adaptativa. Assim, envolvendo o uso de algoritmos genéticos ou não, o surgimento da organização a partir das interações entre as partes, implica relativizar a desordem, e compreender efetivamente esse objeto – a arquitetura – não apenas, ou principalmente, como ‘objeto’, já que é organizado e, sobretudo, organizante, mas como um sistema. Um sistema complexo, onde o todo é simultaneamente mais e menos que a soma de suas partes, pelas emergências que a sua organização produz e que retroagem sobre esta mesma organização. |