Summary: |
O presente trabalho busca uma reflexão sobre o patrimônio urbano através da visão do cineasta Wim Wenders(1973,1987). Para tal nos apoiaremos especialmente nos estudos da Fenomenologia da Imagem e da Imaginação Criadora de Gaston Bachelard (1943;1948;1957;1960;1970) no tratamento das questões de natureza urbana. Por meio da linguagem cinematográfica, numa Fenomenologia da Imaginação Criadora, abordaremos alguns aspectos dos potenciais imagéticos que permeiam a visão deste cineasta na busca por uma nova forma de conhecimento e reconhecimento do patrimônio urbano. Nos propomos a refletir sobre as imagens de dois longas-metragem do cineasta que são: “Asas de Desejo”(1987) e “Sob o Céu de Lisboa”(1994) buscando principalmente uma visualização e virtualidade que esta representação possa trazer do espaço, da luz e da matéria urbana emanada por suas imagens. A imagem poética emanada das visadas wenderianas proporciona não só uma experiência fenomenológica do mundo, mas também o desvelamento das nuanças do ambiente urbano e seu patrimônio. Para Wenders(1992), o cinema pode contribuir para deter todas as coisas de seu desaparecimento mas para isto tem que ser capaz de se redimir da realidade, mediante o respeito da sua fugaz aparência. O artigo desenvolve-se em três momentos: num primeiro instante discutiremos a contribuição metodológica do pensamento de Bachelard para a análise das imagens por nós referenciadas, em seguida traremos a luz a importância do cinema e sua ontologia enquanto espaço de evasão urbana e por fim o presente artigo conclui discutindo através do cruzamento da visão urbana dos anjos em “Asas do desejo”(1987)e das imagens de “O Céu de Lisboa” (1994), apreendidas nas costas do cineasta, o cinema enquanto possibilidade de pesquisa interdisciplinar produtor de novas formas de apreensão do patrimônio urbano. O espaço urbano cinematográfico é sem dúvida peça chave na análise de cidades imaginárias tanto no sentido de uma projeção futura quanto num panorama de resgates históricos. Nos filmes experimentamos cidades postergadas pela cidade real. Através de sua linguagem ontológica o cinema nos oferece uma mediação entre a cidade–conceito e a cidade- experiência, podendo assim nos servir como base para reflexões metodológicas de tais dinâmicas. Neste sentido, a experiência imagética das paisagens urbanas e seu patrimônio, emanadas pelo cinema nos aproxima de questões relevantes no âmbito da busca por um melhor conhecimento das complexidades urbanas. Constitui nosso objetivo entender como a imagem cinematográfica com seus elementos e sua ambiência poderia contribuir no aflorar de um olhar mais sensível e transversal ao pensar urbanístico e seu patrimônio arquitetônico. Quais os encantamentos possíveis, dentro da transversalidade, que este olhar não escrutinador pode trazer para o nosso desenvolvimento de um melhor desenho? Quais as nuanças e valorações aportadas nos enquadramentos do urbano realizados por este cineasta? Seja como matéria primordial seja como instrumental, a imagem cinematográfica tem para nós o sentido experimental poético sobre a natureza imaginaria do ambiente urbano inserindo-se numa dimensão multidisplinar que envolve as narrativas e os processos projetuais das instâncias patrimonias arquitetônicas e artísticas, voltadas a nosso ver para uma melhor compreensão e atuação nas cidades. |