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Entre as transformações operadas pela tecnologia digital, quanto ao processamento e uso de textos ligados em rede, a lógica dos meios eletrônicos não corresponde mais à linearidade peculiar à palavra impressa ou manuscrita em suportes materiais tradicionais. Verifica-se, ainda, no ambiente digital uma explosão dos limites espaciais e da percepção do usuário, diante do misto de imagens e textos, construído a partir da linguagem numérica, possibilitando uma nova maneira de inscrição da palavra em uma escrita que é também imagem. Deste modo, ao pensarmos no ambiente digital – imbricada rede interligada por nós e manifestada por milhares de pixels, iluminados e efêmeros – como um lugar de criação-fruição, é possível imaginar uma prática ativadora de retorno e resgate da qualidade imagética da escrita, perdida no passado quando esta foi convertida analogicamente em mero veículo dos sons pelo uso do alfabeto. Na profusão de camadas textuais, visíveis e sobrepostas, amplia-se a presença desta escrita-imagem, como palimpsestos eletrônicos da contemporaneidade. Nesse sentido, essas possibilidades, em diálogo com a problematização estética na produção artística visual da pós-modernidade, encontram o duplo potencial imaginal criador da escrita em um campo fértil de exploração das possibilidades da palavra e do tipo. A partir da dualidade entre verbal e visual, o artista pós-moderno recupera no alfabeto, de certa maneira, sua qualidade germinal de imagem. É nossa intenção neste artigo, portanto, investigar de que modo as poéticas visuais contemporâneas – especialmente nas obras de Bill Viola, Gary Hill, Roberto Cabot, entre outros – ao fazer uso de meios eletrônicos, incorporam a palavra escrita em seu processo de criação. Como fundamento para a argumentação e compreensão das imagens, estaremos utilizando, predominantemente a filosofia da imagem e da imaginação de Gaston Bachelard (1957,1960,1961) na decifração de uma ontologia criadora mediada pelo digital. Primeiramente, através das representações da escrita-imagem, realizadas por artistas que recorrem ao gesto da mão e ao trabalho corporal em suas construções. Em seguida, pela abordagem da ampliação dos sistemas de apreensão e fruição, no momento em que essas poéticas visuais exploram o meio eletrônico como um local de experimentação, considerando que a palavra inserida pelo criador não mais se atém ao plano da obra. Sem esquecer, no entanto, que as questões relacionadas à presença da escrita e da palavra no ambiente digital estarão permeadas pelas particularidades deste meio nas relações tempo-espaço, atual-virtual e material-imaterial. Linha Temática: Arte y cultura digital |