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O trabalho proposto pretende examinar algumas questões relacionadas à concepção de interfaces que se estruturam como âncoras das instâncias virtuais de interação de comunidades geograficamente referenciadas. Ao traçar as inúmeras variáveis que devem ser consideradas na estruturação dessas interfaces, procura destacar um aspecto muitas vezes esquecido nessa prática: a necessidade de se ter atividades colaborativas presenciais associadas às ações de design e apropriação dos territórios virtuais, principalmente quando os usuários são pessoas ainda destituídas de habilidades no trato com as tecnologias de informação e comunicação. Este artigo tem como base os estudos em curso de uma pesquisa ampla, em desenvolvimento, cujo objetivo é implantar uma instância virtual em uma comunidade carente da periferia de uma metrópole brasileira. Agregando diversos parceiros acadêmicos e do terceiro setor, e visando a definição de políticas públicas neste domínio, estes estudos envolvem o exame de diversos projetos e iniciativas similares, implantados em vários países. Há pelo menos uma década, é possível, para um conjunto cada vez mais significativo da sociedade contemporânea, vislumbrar instâncias de sociabilidade a partir de ambientes virtuais que ora se sobrepõem, ora se entrelaçam a interações sociais face-a-face. Os territórios virtuais não podem ser considerados homogêneos, com características determinadas e estanques. Tais territórios abrangem, além de novas formas de comunicação, possibilidades outras de produção de informação e de promoção de capital social. Nesse contexto onde as interfaces são centrais, estão presentes variáveis de naturezas distintas, que englobam desde a disponibilidade de suportes tecnológicos, a uma diversidade de ferramentas, códigos e linguagens. Pode-se dizer que o trabalho colaborativo, já muito destacado e valorizado nos ambientes virtuais, deve ser praticado desde as instâncias presenciais quando se tem por meta a estruturação destes ambientes virtuais como locus de interação comunitária. Trata-se de atividades de animação sócio-cultural, ou de motivação, ancoradas em práticas cotidianas e contextualizadas à realidade das pessoas envolvidas, portanto além da simples instrumentalização para o uso operacional da tecnologia. A interface, neste sentido, como espaço virtual da comunidade, deve ter estrutura aberta e flexível, e ser desenhada para abrigar conteúdos produzidos pelos usuários, a partir de estímulos e ações presenciais e virtuais. Neste contexto, é proposto ampliar a noção de interface destinada à interação comunitária, e assim considerar que ela pode começar a ser construída e determinada a partir de ações realizadas em âmbito presencial. Tais proposições decorrem de algumas indagações de como deveriam estar estruturadas interfaces de suporte de ambientes virtuais para comunidades geograficamente baseadas. Considerando o design de interfaces como uma tarefa interdisciplinar, que envolve concepções múltiplas e agregadas, como a arquitetura de sistemas, aspectos gráficos, cognitivos, entre tantos outros, muitas questões são pertinentes. Quais seriam as representações apropriadas a um espaço virtual interativo de uma determinada comunidade? Seriam interfaces tipo portal web modelos satisfatórios? As proposições de CSCW [Computer Supported Cooperative Work] são adequadas para se pensar esse tipo de comunidades virtuais? A disponibilização de conteúdos voltados à realidade da comunidade é suficiente? Há necessidade de se agregar ferramentas de comunicação de uso exclusivo? Quais as medidas de inteligibilidade para as abstrações gráficas? |