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Como formulado por vários teóricos contemporâneos, o momento que vivemos compõe-se pelas dimensões global e local, o que explica o neologismo glocal. Para além de suas referências ao espaço físico, glocal pode significar também a síntese entre diferentes modos de percepção, preservação e organização de conteúdos, uma sobreposição conceitual de três momentos de comunicação. Esse artigo propõe uma comparação entre três formas de estruturação de informação: a da mnemônica, própria ao período oral e transitório da escrita, a da cibernética, própria ao período eletrônico, e a da complexidade, modo de pensar que embutiria os outros dois. O resgate de modelos de memorização espacial, utilizados durante a Idade Média para armazenamento estruturado de informação, apresenta-se como um caminho possível para estruturar processos de criação onde combinação e auto-organização são as chaves para a geração de arquitetura. Trabalhos contemporâneos como o Memory Theater VR, de Agnes Hegedüs, que tem em sua base conceitual a mnemônica e a lógica combinatória, são exemplos para a construção de significado por parte do usuário em sua experiência interativa com o ambiente criado, percebendo-o como um espaço de aprendizado. A teoria Cibernética proporcionou o entendimento de sistemas como formas de processamento de informação aplicadas a múltiplos fins. Aliados às noções de observador e usuário, os termos comunicação e controle são componentes fundamentais na organização destes sistemas, que implicavam em uma revisão de métodos de representação newtonianos, perspectívicos e cartesianos. Estes princípios podem ser vistos no trabalho do arquiteto inglês Cedric Price, nos quais a representação projetual transcende a representação do objeto, através de diagramas e esquemas conceituais que organizam as informações envolvidas no processo de design. Mais recentemente, a teoria da Complexidade introduziu ainda o uso de diagramas e sistemas permitindo conexões de informação, auto-organização e interação, intervindo no processo arquitetônico junto ao contexto espacial-temporal e, assim, visando a concepção de espaços de conhecimento, fossem eles virtuais, concretos ou híbridos. O espaço do conhecimento, gerado por entidades informacionais e estruturadoras, que antigamento existiam na mente ou em artefatos, poderiam agora alterar os próprios objetos arquitetônicos, como 'mnemes' arquitetônicos, nos dizeres de Edgar Morin. O artigo propõe-se ainda a discutir o papel do arquiteto e estratégias de capacitação para agir em um sistema reativo e retro-alimentado, auto-organizador, que depende do domínio de estruturas capazes de dar suporte a combinações randômicas, em ambientes digitais ou analógicos. |